segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O trabalho terceirizado e suas implicâncias na organização da classe trabalhadora


O trabalho terceirizado no Brasil começou a ganhar força a partir dos anos de 1970, juntamente com a abertura para as multinacionais atuarem ativamente no mercado do país, sendo também utilizado por empresas brasileiras. Estas super empresas do setor produtivo, seguindo a lógica de todas as atividades econômicas atuais de buscar sempre maior obtenção de lucro, introduziram em suas estruturas novas formas de faturamento que correm em torno da precarização das condições de trabalho e dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Com o governo FHC, esse fenômeno se intensificou, alcançando a esfera dos serviços prestados pelo Estados, e se constitui como um dos pilares da estratégia de sustentação do capitalismo em nosso país.
Estima-se que aproximadamente dez milhões de trabalhadores no Brasil trabalhem em empresas que prestam serviços a outras, e por este motivo, são vistos como trabalhadores de segunda categoria. Estas pessoas, quando inseridas nesse setor são obrigadas a se sujeitar a cumprir várias funções a parte de sua função específica, de forma a reduzir as despesas da empresa deixando de contratar mais profissionais. Essa prática ajuda a aumentar as taxas de desemprego e juntamente a este processo, a impor aos trabalhadores menores salários frente ao medo de serem cortados do corpo de funcionários.
As informações sobre a prestação de serviços são insuficientes para que se possa ter análises estatísticas dessa prática. Entretanto, sabe-se que é crescente o número de trabalhadores terceirizados, fato que se expressa como uma preocupação devido ao fato de o Brasil ser um dos poucos países da América Latina que não tem uma legislação para esse trabalhador. As centrais sindicais se uniram e propuseram alguns projetos de leis, que estão parados na Casa Civil. Todas concordam que a prática da terceirização impede a geração de vagas de trabalho CLTs, reduz os salários e aumenta o número de acidentes de trabalho por conta do cumprimento de funções sem capacitação - todavia, a rotatividade dos trabalhadores geralmente não permite que as empresas acumulem passivos trabalhistas. As poucas questões traçadas para a regulamentação deste tipo de atividade, como a símula 331 do Tribunal Superior do Trabalho, são constantemente burladas pelas brechas que esta oferece em proveito dos empresários. É o caso das linhas que traçam que o trabalhador terceirizado não pode receber menos que o trabalhador direto de mesmo cargo, que são descumpridas ao se mudar o nome e as características da função do trabalhador indireto ou a alegação de se tratarem de trabalhadores de empregadores diferentes e que tal lei só cabe no caso de mesmo empregador.
Com a falta de vistoria, são abertas frestas para que outros abusos sejam cometidos, como é o caso da exploração das condições das mulheres. Sabe-se que 70% dos trabalhadores de call centers - um dos ramos que as empresas mais contratam outras empresas para prestação de tal serviço - no mundo, são mulheres, e os relatos de doenças e problemas desenvolvidos durante as atividades são muitos e frequentes. Além do mais, são trabalhadoras jovens.
A condição de outro grupo que está totalmente desamparado é também preocupante: os bolivianos que chegam ao Brasil para trabalhar em setores de confecção, e mais recentemente, peruanos e haitianos não são amparados por sindicatos, muito menos por leis trabalhistas para sua situação, trabalhando em oficinas que na maioria das vezes prestam serviço para as grandes corporações, na maioria dos casos de forma totalmente ilegal. Dessa forma, observa-se um novo desenho da classe trabalhadora, como apontou em uma entrevista ao programa Roda Viva, o dr. Ricardo Antunes, professor titular da Unicamp. Ainda segundo ele, "precarização é a regra do capitalismo […] mas a precarização não é total".
Apesar do aumento econômico que o país teve nos anos do governo Lula, que fez com que o número de empregos formais aumentasse, esta condição não exclui o surgimento de mais empregos informais. Nas obras do PAC e da Copa do Mundo de 2014 já foram registradas péssimas condições de trabalho informal e até casos de trabalho semi-escravo. As greves realizadas pelos trabalhadores do PAC são uma ameaça como modelo de organização para as empresas que contratam serviços informais e/ou terceirizados, já que a intenção da substituição dos trabalhadores em pouco tempo, e a dificuldade da empresa contratante de um serviço ser acionada pelo Judiciário (dificuldade amparada pela lei) é descentralizar a massa de trabalhadores, desorganizando nossa classe - como afirma Marx no livro I do Capital. Mesmo assim, os males causados pelas condições de trabalho, aliadas à discriminação nas relações entre os trabalhadores da mesma empresa, geram um quadro crítico da situação da classe trabalhadora frente aos seus direitos, conquistados com sangue durante anos.
Observa-se que a classe trabalhadora, por questões econômicas, organiza-se em torno dos sindicatos e reivindicam alguns direitos, mas é impossível não perceber a limitação dos sindicatos atuais e das greves organizadas, pois além de se restringirem aos aspectos econômicos, não abrangem outra parcela significativa dos trabalhadores, os terceirizados e os informais. A economia e as políticas neoliberais em nosso país resistem, e nesse campo não é possível encontrar outra saída para a emancipação da classe trabalhadora, a não ser pelo trabalho de base, que inclui lutar pela regularização dos trabalhadores terceirizados, para que estes tenham jornadas de trabalho e salários iguais aos outros trabalhadores, funções específicas, para que não sejam mais discriminados no próprio ambiente de trabalho e para que possam ter representação nos mesmos sindicatos dos trabalhadores CLTs.
Dentro desta luta, é inadmissível não incorporar a luta pelo direito das mulheres trabalhadoras, que estão em desvantagem quando comparadas aos homens, em razão da hierarquia do trabalho, onde as atividades masculinas valem mais do que as femininas, mesmo que os níveis de formação de homens e mulheres criem uma contradição quando comparados a essas condições.
É importante que seja colocada a importância que tem a terceirização dos serviços públicos na estratégia neoliberal de cada vez mais tirar da mão do Estado as responsabilidades dos serviços básicos prestados à população, e o interesse de que sejam transformados em fonte de lucro. Os direitos mais básicos são dessa forma sucateados à mercê da acumulação de dinheiro para alguns burgueses parceiros dos governos em voga.

J5J-SP


Nenhum comentário:

Postar um comentário