Texto corrigido e atualizado em 15/08/2012 às 12:27
Mais um megaevento
esportivo teve seu encerramento no domingo passado, 12 de julho, e como todo
megaevento financiado pelos maiores capitalistas, diversas contradições foram
apontadas, apresentando novas características.
Em meio à crise
econômica na Europa, as Olimpíadas de Londres foram um suspiro que alguns
setores da burguesia Inglesa puderam dar à beira de uma quebra em seu sistema
econômico – condição que compartilha com outros países (França, Itália,
Islândia, etc). Todos os investimentos nesse evento internacional,
principalmente no ramo do turismo, representam ao governo inglês uma injeção de
dinheiro no país, num cenário cuja previsão de crescimento é de 0% do PIB para
este ano. Com a acirração das contradições nas estruturas do sistema, também se
acirram as contradições de sua superestrutura, que no caso das Olimpíadas
fizeram saltar aos olhos na forma como é tratada a questão de gênero.
Pela primeira vez na história dos jogos todas as delegações foram formadas com
a presença de atletas femininas, inclusive a delegação da Palestina, que pela
primeira vez pôde representar seu povo em um evento desse tipo. Diante disso,
comentários, matérias, notas, reportagens de caráter machista não faltaram,
tanto na imprensa internacional, como na nacional (a exemplo da sessão do site
do Globo Esporte, “Musas das Olimpíadas”, onde fotos das atletas eram postadas,
com o intuito de chamar a atenção para seus corpos – aqueles que estavam dentro
do padrão de beleza que nos é imposto).
Matérias que falavam sobre as atletas com corpos “acima do peso” (apesar de
terem sido qualificadas para concorrer nos jogos pelo condicionamento físico e
preparação) foram taxadas ofensivamente como “masculinizadas”, refletindo o
caráter machista de tais afirmações e ditando quais as atividades que cabem às
mulheres e quais as que cabem aos homens no esporte, além de impor um modelo de
feminilidade para as mulheres, como uma regra comportamental. Notamos em
afirmações como: “desagradáveis de olhar, pois é inaceitável que mulheres
tenham pêlos no corpo...”. Além disso, estamos cansados de ouvir pessoas que
subestimam a qualidade do esporte feminino, principalmente quando tentam
enraizar essa ideia infundada através da divulgação de fotos das atletas
mostrando, não seus dotes esportivos, mas o que se considera as maiores qualidades
delas: seus corpos.
Sarah Menezes e o ouro do Brasil / REUTERS |
A sociedade de
consumo transforma a figura feminina em mercadoria. Um exemplo disso é a
pressão para que o tamanho dos uniformes das atletas seja desnecessariamente
menor, tirando a atenção do que realmente fez a diferença, o que essas mulheres
têm realmente de valor para mostrar: seu talento e sua força para conseguir
competir em jogos importantes, apesar do desestímulo para continuar o que todas
sofrem pelo fato de serem... mulheres. Sarah Menezes é um exemplo de que o que
as atletas querem nas competições é mostrar seu potencial e conseguir ótimos
resultados, e não exibir seus corpos para avaliação de beleza. Pobre e
nordestina, duas características que são frequentemente motivo de preconceito
no Brasil, Sarah além de conseguir o primeiro ouro do Brasil nessas Olimpíadas,
foi a segunda mulher a conseguir um ouro em esportes individuais.
O
estímulo ao esporte em nosso país não funciona como deveria: o esporte é uma mercadoria,
um meio para a obtenção de dinheiro unicamente, e não um instrumento
fundamental para a educação e o desenvolvimento das crianças e dos jovens. Como
consequência da falta de educação de qualidade, que abrange também outras
esferas além do esporte, temos o quadro atual da juventude no país, onde muitos
estão envolvidos com drogas ou com o crime em razão da falta de todo tipo de
recurso básico que necessitam para sua formação. A isso, soma-se a ideologia da
classe burguesa, expressa em todos os meios de comunicação, que impede o
desenvolvimento da indignação desses jovens a partir de sua consciência de
classe para si.
Entendemos que a situação da mulher, explorada como proletária é uma questão
que vai além da luta por direitos dentro do sistema capitalista. A importância
da organização das mulheres em prol de igualdade de direitos com o homem é de
muita importância, mas apenas se caminhar junto com a luta pela tomada do poder
pela classe trabalhadora, pois a emancipação da mulher não é possível enquanto
esta for subordinada ao homem, numa sociedade patriarcal e machista que investe
pesado para manter essa situação desigual que gera tantos meios para obtenção
de lucros. É preciso entender que a luta das mulheres não é algo específico nem
exterior à luta de classes e que só é necessária, pois, a partir de diversos
acontecimentos históricos se deu a submissão da mulher ao homem e isto se
tornou condição indispensável para nutrir a sociedade de exploração das
classes.
Dentro de uma organização que objetiva a sociedade comunista é
imprescindível que haja em seu cerne a participação das mulheres, uma vez que a
luta de classes diz respeito a tod@s @s proletari@s contra a
burguesia. E é dentro dessa organização que deve se desenvolver a luta das
mulheres, não à parte, mas como parte do
todo. Porque são parte do desenvolvimento e da sustentação do sistema
capitalista os salários menores para as mulheres que desempenham as mesmas
funções que os homens, a imposição de um modelo de comportamento e de beleza, a
classificação do trabalho doméstico como “trabalho característico e natural da mulher”,
a restrição a algumas atividades e profissões, como os esportes, entre outras
violações que as mulheres passam todos os dias, principalmente a negra e pobre,
que além de tudo podem morrer ou ver seus filhos mortos pela força repressora
do Estado.
À exemplo de grandes lutadoras, como Bartolina Sisa, Clara Zetkin, Rosa
Luxemburgo, Dandara, Manuela Sáenz, Angela Davis, Olga Benário, Pagu, Marias,
Antônias, Franciscas e muitas outras, que combinaram a lutaram pelos direitos
das mulheres, ao lado de grandes companheiros, com a luta pelo fim das
opressões de classe, pois o contrário dessa situação é entregar a causa da
igualdade de gênero à utilização da burguesia em sua luta pela desestruturação
da organização do proletariado para manter os status quo, que a mantém
como classe dominante, tendo em seu pacote ideológico o machismo. Essa
organização proletária tem como exemplo a Revolução Bolchevique, que alcançou
muitas vitórias no que diz respeito à inserção da mulher na produção social,
avançando na igualdade de direitos, inéditas até no mundo “desenvolvido”, ao
longo de anos, em pró de um trabalho que reuniu não só as mulheres, mas todos
os comunistas e toda a população soviética. À exemplo também da Revolução
Cubana e da Norte-coreana nesses aspectos citados e em relação às posições e
aos cargos que até então alheios às mulheres em razão da cultura da submissão da
mesma. Os governos capitalistas podem “dar” alguns direitos aqueles que
protestam, mas não é assim que se transforma uma estrutura social, política e
econômica hegemônica no mundo.
A revolta que causou os
casos de machismo na mídia, pelo tamanho de sua expressão, principalmente nas
redes sociais, pode refletir um aumento no nível de instrução que as pessoas
estão adquirindo, e estão se propondo a enfrentar esse mal. É aí que entra a
organização revolucionária, para quebrar com o vício pueril espontaneísta de
alguns movimentos sociais no nosso país e no mundo e traçar um plano de
estratégia e prática para a construção de um movimento proletário que possa
tomar o poder. Um comunista sabe que a luta das mulheres está dentro do
partido, na luta do trabalhador e da trabalhadora e é somente com o apoio da
maioria que se pode vencer essa luta e começar a plantar as sementes num lugar
onde as oportunidades de dar frutos poderão ser criadas.
Pela emancipação dos proletários e das
proletárias!
Pela equidade de direitos para todos e
todas!
Pelo fim da submissão da mulher ao homem!
Pela Revolução Socialista!
J5J-SP
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