terça-feira, 14 de agosto de 2012

Os jogos olímpicos, a subestimação da mulher e a importância dela na organização revolucionária



Texto corrigido e atualizado em 15/08/2012 às 12:27


Imagem de Paul Lowy
  

Mais um megaevento esportivo teve seu encerramento no domingo passado, 12 de julho, e como todo megaevento financiado pelos maiores capitalistas, diversas contradições foram apontadas, apresentando novas características.
  Em meio à crise econômica na Europa, as Olimpíadas de Londres foram um suspiro que alguns setores da burguesia Inglesa puderam dar à beira de uma quebra em seu sistema econômico – condição que compartilha com outros países (França, Itália, Islândia, etc). Todos os investimentos nesse evento internacional, principalmente no ramo do turismo, representam ao governo inglês uma injeção de dinheiro no país, num cenário cuja previsão de crescimento é de 0% do PIB para este ano. Com a acirração das contradições nas estruturas do sistema, também se acirram as contradições de sua superestrutura, que no caso das Olimpíadas fizeram saltar aos olhos na forma como é tratada a questão de gênero.
   Pela primeira vez na história dos jogos todas as delegações foram formadas com a presença de atletas femininas, inclusive a delegação da Palestina, que pela primeira vez pôde representar seu povo em um evento desse tipo. Diante disso, comentários, matérias, notas, reportagens de caráter machista não faltaram, tanto na imprensa internacional, como na nacional (a exemplo da sessão do site do Globo Esporte, “Musas das Olimpíadas”, onde fotos das atletas eram postadas, com o intuito de chamar a atenção para seus corpos – aqueles que estavam dentro do padrão de beleza que nos é imposto).
   Matérias que falavam sobre as atletas com corpos “acima do peso” (apesar de terem sido qualificadas para concorrer nos jogos pelo condicionamento físico e preparação) foram taxadas ofensivamente como “masculinizadas”, refletindo o caráter machista de tais afirmações e ditando quais as atividades que cabem às mulheres e quais as que cabem aos homens no esporte, além de impor um modelo de feminilidade para as mulheres, como uma regra comportamental. Notamos em afirmações como: “desagradáveis de olhar, pois é inaceitável que mulheres tenham pêlos no corpo...”. Além disso, estamos cansados de ouvir pessoas que subestimam a qualidade do esporte feminino, principalmente quando tentam enraizar essa ideia infundada através da divulgação de fotos das atletas mostrando, não seus dotes esportivos, mas o que se considera as maiores qualidades delas: seus corpos.
Sarah Menezes e o ouro do Brasil / REUTERS
  A sociedade de consumo transforma a figura feminina em mercadoria. Um exemplo disso é a pressão para que o tamanho dos uniformes das atletas seja desnecessariamente menor, tirando a atenção do que realmente fez a diferença, o que essas mulheres têm realmente de valor para mostrar: seu talento e sua força para conseguir competir em jogos importantes, apesar do desestímulo para continuar o que todas sofrem pelo fato de serem... mulheres. Sarah Menezes é um exemplo de que o que as atletas querem nas competições é mostrar seu potencial e conseguir ótimos resultados, e não exibir seus corpos para avaliação de beleza. Pobre e nordestina, duas características que são frequentemente motivo de preconceito no Brasil, Sarah além de conseguir o primeiro ouro do Brasil nessas Olimpíadas, foi a segunda mulher a conseguir um ouro em esportes individuais.
  O estímulo ao esporte em nosso país não funciona como deveria: o esporte é uma mercadoria, um meio para a obtenção de dinheiro unicamente, e não um instrumento fundamental para a educação e o desenvolvimento das crianças e dos jovens. Como consequência da falta de educação de qualidade, que abrange também outras esferas além do esporte, temos o quadro atual da juventude no país, onde muitos estão envolvidos com drogas ou com o crime em razão da falta de todo tipo de recurso básico que necessitam para sua formação. A isso, soma-se a ideologia da classe burguesa, expressa em todos os meios de comunicação, que impede o desenvolvimento da indignação desses jovens a partir de sua consciência de classe para si.
            Entendemos que a situação da mulher, explorada como proletária é uma questão que vai além da luta por direitos dentro do sistema capitalista. A importância da organização das mulheres em prol de igualdade de direitos com o homem é de muita importância, mas apenas se caminhar junto com a luta pela tomada do poder pela classe trabalhadora, pois a emancipação da mulher não é possível enquanto esta for subordinada ao homem, numa sociedade patriarcal e machista que investe pesado para manter essa situação desigual que gera tantos meios para obtenção de lucros. É preciso entender que a luta das mulheres não é algo específico nem exterior à luta de classes e que só é necessária, pois, a partir de diversos acontecimentos históricos se deu a submissão da mulher ao homem e isto se tornou condição indispensável para nutrir a sociedade de exploração das classes.
             Dentro de uma organização que objetiva a sociedade comunista é imprescindível que haja em seu cerne a participação das mulheres, uma vez que a luta de classes diz respeito a tod@s @s proletari@s contra a burguesia. E é dentro dessa organização que deve se desenvolver a luta das mulheres, não à parte, mas como parte do todo. Porque são parte do desenvolvimento e da sustentação do sistema capitalista os salários menores para as mulheres que desempenham as mesmas funções que os homens, a imposição de um modelo de comportamento e de beleza, a classificação do trabalho doméstico como “trabalho característico e natural da mulher”, a restrição a algumas atividades e profissões, como os esportes, entre outras violações que as mulheres passam todos os dias, principalmente a negra e pobre, que além de tudo podem morrer ou ver seus filhos mortos pela força repressora do Estado.
            À exemplo de grandes lutadoras, como Bartolina Sisa, Clara Zetkin, Rosa Luxemburgo, Dandara, Manuela Sáenz, Angela Davis, Olga Benário, Pagu, Marias, Antônias, Franciscas e muitas outras, que combinaram a lutaram pelos direitos das mulheres, ao lado de grandes companheiros, com a luta pelo fim das opressões de classe, pois o contrário dessa situação é entregar a causa da igualdade de gênero à utilização da burguesia em sua luta pela desestruturação da  organização do proletariado para manter os status quo, que a mantém como classe dominante, tendo em seu pacote ideológico o machismo. Essa organização proletária tem como exemplo a Revolução Bolchevique, que alcançou muitas vitórias no que diz respeito à inserção da mulher na produção social, avançando na igualdade de direitos, inéditas até no mundo “desenvolvido”, ao longo de anos, em pró de um trabalho que reuniu não só as mulheres, mas todos os comunistas e toda a população soviética. À exemplo também da Revolução Cubana e da Norte-coreana nesses aspectos citados e em relação às posições e aos cargos que até então alheios às mulheres em razão da cultura da submissão da mesma. Os governos capitalistas podem “dar” alguns direitos aqueles que protestam, mas não é assim que se transforma uma estrutura social, política e econômica hegemônica no mundo.
A revolta que causou os casos de machismo na mídia, pelo tamanho de sua expressão, principalmente nas redes sociais, pode refletir um aumento no nível de instrução que as pessoas estão adquirindo, e estão se propondo a enfrentar esse mal. É aí que entra a organização revolucionária, para quebrar com o vício pueril espontaneísta de alguns movimentos sociais no nosso país e no mundo e traçar um plano de estratégia e prática para a construção de um movimento proletário que possa tomar o poder. Um comunista sabe que a luta das mulheres está dentro do partido, na luta do trabalhador e da trabalhadora e é somente com o apoio da maioria que se pode vencer essa luta e começar a plantar as sementes num lugar onde as oportunidades de dar frutos poderão ser criadas.

Pela emancipação dos proletários e das proletárias!
Pela equidade de direitos para todos e todas!
Pelo fim da submissão da mulher ao homem!
Pela Revolução Socialista!

J5J-SP

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