sexta-feira, 23 de agosto de 2013

O processo de manifestações em São Paulo

Desde os primeiros protestos contra o aumento da tarifa do transporte público em São Paulo e em outras cidades, muitos outros acontecimentos vem sendo desencadeados no Brasil de maneira similar ao que temos visto em outros países do mundo. Como em outras manifestações noticiadas, o movimento iniciou tendo como bandeira uma demanda real da classe trabalhadora, mas através de diversas manobras, teve seu caráter totalmente manipulado ao longo do processo para servir a interesses análogos, contando como aliada a falta de organização na tomada das ruas. Combinado com outros fatores, é um período que deixa claro a grande turbulência que atravessa a sociedade em suas esferas e que tem como fator determinante uma crise econômica profunda nunca antes vista, estando a mesma afetando a vida das distintas camadas sociais.
No editorial da edição 433 do Jornal Inverta, faz parte da análise apresentada o apontamento da tendência histórica dos setores oprimidos da sociedade de se levantarem contra os abusos sofridos no momento em que os mesmos tomam proporções notáveis, tendência essa que ganharia ainda mais força no atual processo de crise estrutural onde estão aprofundadas as contradições de uma maneira que transpõe a escala econômica, tomando as proporções políticas e sociais. Na cidade, as manifestações iniciadas antes mesmo do aumento efetivo das tarifas do transporte público trouxe uma resposta espontânea a mais um ato de violência contra o povo pobre anunciado pelas prefeituras. Viu-se desde o início a participação de um número mais significativo de pessoas quando relacionado aos anos anteriores. Por ser também um momento em que as grandes empresas, como é o caso da SpTrans que controla o transporte “público” na capital paulista, precisam garantir um perfeito andamento da máquina do lucro, as forças de repressão do Estado aliado a estes setores tiveram a função de tentar conter o contingente de pessoas que estavam nas ruas se posicionando contra o aumento da passagem.
No mesmo editorial citado, outro ponto é denunciado. Frente a dificuldade das grandes oligarquias de reproduzir seu capital em escala crescente e realizarem a mais-valia produzida limitada por barreiras objetivas dos tempos atuais, as mesmas tentaram encontrar alternativas políticas, aproveitando-se dos levantes para acender ao governo de forma a ter livre acesso à exploração da força de trabalho e dos recursos naturais. Um setor ligado ao agronegócio e ao capital estrangeiro que não está fora do governo federal há mais de dez anos com as contínuas vitórias do PT – grupo que coaliza com outros setores da burguesia, mas que tem garantido um número mínimo de medidas que favorecem a população mais pobre - não tardou, em um momento delicado de retração das trocas comerciais com o esfacelado império estadunidense, a colocar seus quadros políticos nas ruas para se tirarem proveito do momento de contestação e levantar suas bandeiras reacionárias. Estão entre essas a que supostamente rechaça a corrupção. Essa bandeira tem servido de bode expiatório contra o governo do PT desde a espetacularização do caso do mensalão petista e esta longe de reivindicar o fim efetivo da mesma que só terá fim quando deposto o sistema que visa apenas o lucro e que por isso nutre estruturas políticas corruptíveis de acordo com seus interesses. Ganham voz com os quadros neonazistas e neofascistas responsáveis pela adoção das posições nacionalistas vistas e reproduzidas em grande escala nas ruas. Aliada a essa estratégia, a grande mídia também mudou sua postura passando a apoiar o movimento que antes denegria, o mesmo visto na mudança de postura da Polícia Militar.
Ficou claro que um verdadeiro ensaio de golpe se deu no momento em que se observou mais de cem mil pessoas nas ruas organizadas pela grande imprensa, e se não foi dado cabo nesse, está imposto ao governo Dilma novos desafios frente ao clima de pressão que permanece mesmo com a diminuição do número de pessoas nas manifestações. De maneira golpista a burguesia mostra que tem cartas na manga para impor seus interesses e essa prova de força pode ser crucial para que esses grupos imponham medidas nos tempos vindouros.
Disso tudo, fica o importante ensinamento para as massas conscientes do quão catastrófico pode ser a falta de uma organização que tenha claro essa tendência de avanço do imperialismo mundial e que adote posições táticas nas manifestação, sem deixar por em risco todo um processo por conta de um ingênuo discurso de horizontalidade e não adotar, por exemplo, o uso de carro de som que ajudar a manter o foco nas bandeiras do movimento, não deixando ter voz os grupos da direita fascista. Faz-se necessário um esforço teórico e organizativo para se entender sobre qual base material se forjam os agentes sociais em luta no presente momento, quem são e quais são os seus interesses para então termos claro como agiremos quando o que está em jogo é um brutal retrocesso nas conquistas obtidas com mobilizações históricas frente a uma possível ascensão ao poder das figuras políticas mais entreguistas e reacionárias do país.
J5J-SP

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