quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Massacre do Carandiru e a militarização da polícia de São Paulo


Neste mês, completaram-se 20 anos da chacina que deixou pelo menos 111 mortos no extinto presídio do Carandiru, localizado Zona Norte de São Paulo. A história desse massacre - arquitetado pelas forças de repressão do Estado – é de impunidade dos responsáveis pela morte de pessoas que cumpriam suas penas nos limites da lei e demonstra a farsa da efetividade da Justiça e a brutalidade com a qual trabalha a Policia Militar em nosso estado.
No dia 2 de outubro de 1992, integrantes da Policia Militar abriram fogo contra os detentos do Pavilhão 9 da Casa de Detenção, a pretexto de tentar conter uma rebelião que acontecia no local. A partir de relatos de ex-detentos, os policias atiraram até mesmo nas pessoas que já tinham se rendido ou que se encontravam escondidas em suas celas. Outros relatos mostram que o número de mortos é superior ao divulgado e que houve desaparecimento de corpos.
O traço mais triste desse sangrento capítulo de nossa história é que toda a estrutura que possibilitou que ele acontecesse se mantém intacta. Apenas um dos 113 réus do processo foi julgado; o Coronel Ubiratan Guimarães, comandante da operação, que foi condenado a 632 anos de prisão. No entanto, o júri foi anulado pelos desembargadores do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e desde 2006 Ubiratan se encontra solto. Além disso, a nomeação pelo Governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no último 22/10, do tenente-coronel Salvador Modesto Madia como novo comandante da Rota, mostra que a linha do extermínio é a adotada pela policia em São Paulo. Ele foi um dos policiais que subiu ao segundo andar do Carandiru, onde foram executadas 78 das 111 pessoas encontradas mortas ali. 
Vivemos hoje a perigosa situação de conivência da nossa classe com os crimes cometidos por nossos repressores. Figuras como a do famigerado Coronel Telhada (eleito como um dos vereadores mais votados) são vangloriadas. Ele é um ex-comandante da Rota e foi responsável por fazer com que o número de abordagens seguidas de morte aumentassem em 63,11% e ultrapassassem, só na cidade de São Paulo, o número dessa ocorrência em todo o território dos Estado Unidos. 
A imagem que nos é passada é a da polícia que faz justiça, que luta contra a crueldade dos bandidos, porém, é avessa ao papel que esta desempenha na prática. Dentro da sociedade de classes, o Estado se divide em dois braços fundamentais para garantir a opressão do setor dominante: o politico e o militar. O Estado burguês regula a sociedade para garantir a exploração econômica da burguesia - dada no roubo diário do que é produzido por milhões de trabalhadores e trabalhadoras e defende a concentração da riqueza que foi produzida socialmente nas mãos de uma minoria. O papel que desempenha as forças de segurança é a de defender militarmente esses interesses, seja quando entra nas favelas para garantir que as drogas - tão essenciais para manter entorpecida a classe trabalhadora em pontos estratégicos do país- corra na mãos dos grupos de narcotraficantes por eles escolhidos, como quando reprime qualquer sinal que manifeste a organização na luta dos trabalhadores e trabalhadoras.
Através da grande mídia, um constante clima de insegurança pública é gerado – fazendo uso de programas de televisão, notícias em jornais e revistas – para fomentar na população o medo constante da violência e apoiar determinadas ações repressivas. O problema da violência é real, mas só poderemos resolvê-lo com transformações que incluam desde educação de qualidade para todos, até o fim de toda situação de miséria que acomete a milhões. A policia é a defensora da classe que vive da exploração. O Massacre do Carandiru, maior massacre executado em penitenciárias brasileiras, não pode ser esquecido. Não pode seguir impune.

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