Instalação de bases militares,
reativação da IV Frota, golpes de Estado, sabotagens em processos eleitorais,
fornecimento de armas e tecnologia para a preparação de grupos paramilitares
são algumas das táticas de ataque que se fizeram notar na América Latina nessa
primeira década do século por parte dos Estados Unidos, apoiados por seus parceiros
da OTAN, que revelam um total cercamento do continente e que tem o Brasil como
alvo principal.
Segundo
o levantamento realizado pelo Centro de Estudos e
Documentação sobre a Militarização (CEDOMI/MOPASSOL), até abril de 2012,
em 19 dos 34 países e ilhas da América Latine e Caribe (incluindo o México) há
bases militares estrangeiras instaladas. Somadas, são pelo menos 47 bases.
Assim como a reativação em 2008 da IV Frota (aparelho de guerra ultramoderno do
tipo aeronaval dos EUA, com o objetivo de controlar a mesma área), o que
justificaria nesse momento que as dívidas públicas dos gigantes imperialistas
contabilizam um montante negativo quase incalculável, a razão da permanência e
o aguçamento dos investimentos bélicos em território latino-americano?
Cercam estrategicamente a região em uma tentativa
desesperada de conter a crise que assola a economia mundial, para garantir a
exploração dos recursos e a exploração da mão de obra. Dessa forma, buscam
conservar até as últimas consequências a chave de sustentação do capitalismo no
seu estágio atual: o desenvolvimento desigual das diversas economias do mundo.
O fraseado é o de sempre,
de que a investida foi implementada para combater o terrorismo e o
narcotráfico. A realidade está no fato
de serem os países da América Latina pilares importantes da reprodução do
capital dos grandes capitalistas nesse momento em que todo o desenvolvimento de
seu aparato industrial se tornou um verdadeiro entrave para a acumulação. Em um
longo processo histórico, o desenvolvimento das máquinas possibilitou a
diminuição do tempo socialmente necessário para a produção das mercadorias,
diminuindo assim o valor das mesmas frente às de outros produtores. Dessa
forma, o avanço da técnica se transformou em condição indispensável para o
mercado. O ponto em que chega essa situação hoje explica todo interesse pelo
domínio de Nossa América. A substituição do trabalho humano pela máquina
resultou na redução ao extremo da taxa de mais-valia que advém somente da força
de trabalho do trabalhador, e assim, na tendência decrescente da taxa de lucro.
Como que garantem então o seu ganho nessas circunstâncias? O grau de
contradição é tanto que os produtos que eram antes mais baratos se tornaram os
mais caros do mercado, pois para garantir o ganho sem a mais-valia, precisam
acrescentar um valor fictício à mercadoria, e para vender nessa condição
precisam garantir o domínio de áreas onde imponham a compra de seus produtos.
Ou seja, por exigir menos força de trabalho humano (capital variável) em sua produção,
o valor das mercadorias fica cada vez mais imensurável, chegando ao ponto do
capitalista não conseguir mais expandir sua produção. Aqui, onde o grau de desenvolvimento das
forças produtivas não está tão avançado, ainda vige o paradigma do tempo socialmente
necessário como medida de valor das mercadorias, assim, quando as potências
econômicas produzem nova tecnologia, compram matérias-primas dos países que
estão nessa situação de atraso, onde o valor dessas matérias-primas como
mercadoria é muito baixo, exatamente em razão das características da sua
produção, garantindo também uma redução dos gastos com a parcela constante do
capital.
Alguns governos progressistas se
instalaram democraticamente na América Latina nos últimos anos, fortalecendo a
união entre os países e uma base anti-imperialista. Isso mudou de maneira muito
considerável o cenário por representar um abandono do papel de subserviência
frente aos Estados Unidos e seus parceiros nos seus ditames que só fazem
ordenar a maior exploração de nossos povos. Entretanto, da mesma forma que
houve fortalecimento da força revolucionária no continente, a contrarrevolução
também se mostrou existente e preparada para agir, confirmando o que pela
dialética já sabíamos que aconteceria. Para aumentar suas forças no continente,
desarticulando as organizações e os governos de esquerda, e continuar
impondo-nos sua política e sua cultura, manter-nos dependentes de sua economia
neoliberal, e mais que isso, para prorrogar o fim de seu sistema, expressado
através da crise estrutural do capital, os EUA precisam garantir sua dominação
em territórios onde podem encontrar matérias-primas e nesse sentido o Brasil se
destaca como peça chave (recentes descobertas de petróleo nas camadas pré-sal,
a extensa bacia hidrográfica do Aquífero Guarani, vegetação abundante, etc.), e
onde o mercado e o processo de produção social não estão tão desenvolvidos como
o seu, para que seu processo de produção possa continuar se reproduzindo.
Os golpes na América Latina não são
parte uma tática nova usada pelo imperialismo para manter sua dominação
econômica, política e ideológica no continente e no mundo. As ditaduras na AL
no século passado são um exemplo do modo de agir do Império quando se sente
ameaçado pela organização popular e/ou a eleição de presidentes
progressistas/anti-imperialistas/anticapitalistas. Ao caso das ditaduras
soma-se o fato da influência da Revolução Cubana, de caráter socialista, em
toda a região. A estratégia dos EUA de invadir e dominar os países que estavam ao
redor e sob a proteção da ex-URSS, para então fazer com que ela se encontrasse
sozinha num mundo hegemonicamente capitalista, e por isto, sem apoio para que
não pudesse manter o socialismo em seu território, aliada à enorme propaganda
anticomunista em todo o mundo, ou seja, o círculo de fogo no Leste Europeu,
cujo principal objetivo era desarticular o centro do Estado socialista pela
dominação de territórios aliados, tem o mesmo caráter que o círculo de fogo ao
redor do Brasil. Isso porque é inegável a influência que tem nosso país em toda
a AL. Vê-se a união dos países latino-americanos nos últimos anos e o Brasil é
o gigante na região, que exerce influência em toda a América do Sul não somente
pela sua extensão, mas por sua economia e suas reservas de riquezas naturais.
A maioria dos governos da AL não é
revolucionária, mas as forças revolucionárias da região
conseguem se organizar ao mesmo tempo em que as condições objetivas ficam cada
vez mais evidentes entre a população: o desemprego, a fome, a devastação de seu
território e de sua cultura. Ao mesmo tempo, como foi dito, o imperialismo se
organiza (e detém muito mais meios para isso) para garantir o sucesso de suas
ações neocolonialistas.
A importância de governos de
esquerda no continente e, principalmente, no Brasil é a de garantir que haja
meios para a organização popular revolucionária. Desta forma, cabe o papel
importante para nós brasileiros de sabermos conduzir os movimentos de nossa
organização, de forma que estejamos preparados para sustentar nossas ações em
qualquer governo, seja da esquerda neoliberal ou da direita “vendida” aos EUA.
Manter relações estreitas com países onde a luta por libertação e por uma
sociedade mais justa esteja mais desenvolvida, para unir forças e aumentar nosso
poder de influência e atuação.
Por isso, devemos lutar contra
qualquer golpe de Estado na América Latina, contra qualquer financiamento de
exércitos latino-americanos, por parte dos EUA e de qualquer outro país
imperialista. Devemos denunciar as injustiças e, ao fazer isso, unir a
população que se revolta. É preciso mostrar que não estamos de cabeça baixa
frente ao domínio de nossas terras. Não há outro meio de conseguir vitórias já
nesta fase do desenvolvimento histórico, uma vez que, organizados em prol da
contrarrevolução, os impérios têm o poder de exterminar toda a vida humana.
Estamos em um momento no qual se acirra cada vez mais a luta contra nosso
inimigo de classe, e se não fizermos com que o sistema capitalista desapareça,
mesmo em crise, ele terá êxito em suas manobras de sobrevivência, onde está em
jogo não somente a liberdade à América Latina, mas a vida dos povos do mundo.
J5J-SP
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