segunda-feira, 30 de julho de 2012

Círculo de fogo na América Latina tem como objetivo o isolamento do Brasil no continente


            

Instalação de bases militares, reativação da IV Frota, golpes de Estado, sabotagens em processos eleitorais, fornecimento de armas e tecnologia para a preparação de grupos paramilitares são algumas das táticas de ataque que se fizeram notar na América Latina nessa primeira década do século por parte dos Estados Unidos, apoiados por seus parceiros da OTAN, que revelam um total cercamento do continente e que tem o Brasil como alvo principal.
            Segundo o levantamento realizado pelo Centro de Estudos e Documentação sobre a Militarização (CEDOMI/MOPASSOL), até abril de 2012, em 19 dos 34 países e ilhas da América Latine e Caribe (incluindo o México) há bases militares estrangeiras instaladas. Somadas, são pelo menos 47 bases. Assim como a reativação em 2008 da IV Frota (aparelho de guerra ultramoderno do tipo aeronaval dos EUA, com o objetivo de controlar a mesma área), o que justificaria nesse momento que as dívidas públicas dos gigantes imperialistas contabilizam um montante negativo quase incalculável, a razão da permanência e o aguçamento dos investimentos bélicos em território latino-americano?
Cercam estrategicamente a região em uma tentativa desesperada de conter a crise que assola a economia mundial, para garantir a exploração dos recursos e a exploração da mão de obra. Dessa forma, buscam conservar até as últimas consequências a chave de sustentação do capitalismo no seu estágio atual: o desenvolvimento desigual das diversas economias do mundo.
O fraseado é o de sempre, de que a investida foi implementada para combater o terrorismo e o narcotráfico.  A realidade está no fato de serem os países da América Latina pilares importantes da reprodução do capital dos grandes capitalistas nesse momento em que todo o desenvolvimento de seu aparato industrial se tornou um verdadeiro entrave para a acumulação. Em um longo processo histórico, o desenvolvimento das máquinas possibilitou a diminuição do tempo socialmente necessário para a produção das mercadorias, diminuindo assim o valor das mesmas frente às de outros produtores. Dessa forma, o avanço da técnica se transformou em condição indispensável para o mercado. O ponto em que chega essa situação hoje explica todo interesse pelo domínio de Nossa América. A substituição do trabalho humano pela máquina resultou na redução ao extremo da taxa de mais-valia que advém somente da força de trabalho do trabalhador, e assim, na tendência decrescente da taxa de lucro. Como que garantem então o seu ganho nessas circunstâncias? O grau de contradição é tanto que os produtos que eram antes mais baratos se tornaram os mais caros do mercado, pois para garantir o ganho sem a mais-valia, precisam acrescentar um valor fictício à mercadoria, e para vender nessa condição precisam garantir o domínio de áreas onde imponham a compra de seus produtos. Ou seja, por exigir menos força de trabalho humano (capital variável) em sua produção, o valor das mercadorias fica cada vez mais imensurável, chegando ao ponto do capitalista não conseguir mais expandir sua produção.  Aqui, onde o grau de desenvolvimento das forças produtivas não está tão avançado, ainda vige o paradigma do tempo socialmente necessário como medida de valor das mercadorias, assim, quando as potências econômicas produzem nova tecnologia, compram matérias-primas dos países que estão nessa situação de atraso, onde o valor dessas matérias-primas como mercadoria é muito baixo, exatamente em razão das características da sua produção, garantindo também uma redução dos gastos com a parcela constante do capital.
Alguns governos progressistas se instalaram democraticamente na América Latina nos últimos anos, fortalecendo a união entre os países e uma base anti-imperialista. Isso mudou de maneira muito considerável o cenário por representar um abandono do papel de subserviência frente aos Estados Unidos e seus parceiros nos seus ditames que só fazem ordenar a maior exploração de nossos povos. Entretanto, da mesma forma que houve fortalecimento da força revolucionária no continente, a contrarrevolução também se mostrou existente e preparada para agir, confirmando o que pela dialética já sabíamos que aconteceria. Para aumentar suas forças no continente, desarticulando as organizações e os governos de esquerda, e continuar impondo-nos sua política e sua cultura, manter-nos dependentes de sua economia neoliberal, e mais que isso, para prorrogar o fim de seu sistema, expressado através da crise estrutural do capital, os EUA precisam garantir sua dominação em territórios onde podem encontrar matérias-primas e nesse sentido o Brasil se destaca como peça chave (recentes descobertas de petróleo nas camadas pré-sal, a extensa bacia hidrográfica do Aquífero Guarani, vegetação abundante, etc.), e onde o mercado e o processo de produção social não estão tão desenvolvidos como o seu, para que seu processo de produção possa continuar se reproduzindo.
       Os golpes na América Latina não são parte uma tática nova usada pelo imperialismo para manter sua dominação econômica, política e ideológica no continente e no mundo. As ditaduras na AL no século passado são um exemplo do modo de agir do Império quando se sente ameaçado pela organização popular e/ou a eleição de presidentes progressistas/anti-imperialistas/anticapitalistas. Ao caso das ditaduras soma-se o fato da influência da Revolução Cubana, de caráter socialista, em toda a região. A estratégia dos EUA de invadir e dominar os países que estavam ao redor e sob a proteção da ex-URSS, para então fazer com que ela se encontrasse sozinha num mundo hegemonicamente capitalista, e por isto, sem apoio para que não pudesse manter o socialismo em seu território, aliada à enorme propaganda anticomunista em todo o mundo, ou seja, o círculo de fogo no Leste Europeu, cujo principal objetivo era desarticular o centro do Estado socialista pela dominação de territórios aliados, tem o mesmo caráter que o círculo de fogo ao redor do Brasil. Isso porque é inegável a influência que tem nosso país em toda a AL. Vê-se a união dos países latino-americanos nos últimos anos e o Brasil é o gigante na região, que exerce influência em toda a América do Sul não somente pela sua extensão, mas por sua economia e suas reservas de riquezas naturais.
            A maioria dos governos da AL não é revolucionária, mas as forças revolucionárias da região conseguem se organizar ao mesmo tempo em que as condições objetivas ficam cada vez mais evidentes entre a população: o desemprego, a fome, a devastação de seu território e de sua cultura. Ao mesmo tempo, como foi dito, o imperialismo se organiza (e detém muito mais meios para isso) para garantir o sucesso de suas ações neocolonialistas.
            A importância de governos de esquerda no continente e, principalmente, no Brasil é a de garantir que haja meios para a organização popular revolucionária. Desta forma, cabe o papel importante para nós brasileiros de sabermos conduzir os movimentos de nossa organização, de forma que estejamos preparados para sustentar nossas ações em qualquer governo, seja da esquerda neoliberal ou da direita “vendida” aos EUA. Manter relações estreitas com países onde a luta por libertação e por uma sociedade mais justa esteja mais desenvolvida, para unir forças e aumentar nosso poder de influência e atuação.
            Por isso, devemos lutar contra qualquer golpe de Estado na América Latina, contra qualquer financiamento de exércitos latino-americanos, por parte dos EUA e de qualquer outro país imperialista. Devemos denunciar as injustiças e, ao fazer isso, unir a população que se revolta. É preciso mostrar que não estamos de cabeça baixa frente ao domínio de nossas terras. Não há outro meio de conseguir vitórias já nesta fase do desenvolvimento histórico, uma vez que, organizados em prol da contrarrevolução, os impérios têm o poder de exterminar toda a vida humana. Estamos em um momento no qual se acirra cada vez mais a luta contra nosso inimigo de classe, e se não fizermos com que o sistema capitalista desapareça, mesmo em crise, ele terá êxito em suas manobras de sobrevivência, onde está em jogo não somente a liberdade à América Latina, mas a vida dos povos do mundo.

J5J-SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário