A
partir da tarde do dia 30 de maio, quarta-feira, moradores do bairro Cidade
Tiradentes, localizado no extremo leste da cidade de São Paulo, ficaram sob um
toque de recolher, atribuído aos criminosos “ilegais”. Segundo a mídia burguesa
e a polícia, na sexta-feira, a situação já havia “voltado ao normal”.
Segundo
a versão da polícia, tudo começou quando policiais da ROTA (força tática da
polícia militar paulista, ex-"Batalhão de Caçadores")
receberam uma denúncia anônima de que um grupo de 14 pessoas, localizado na
Penha, estaria planejando uma ação armada para libertar um detento que iria ser
transferido do CDP (Centro de Detenção Provisória), no Belém, para uma
penitenciária em Presidente Venceslau, interior do estado de SP.
Vinte
e quatro policiais chegaram ao local e, segundo eles, foram recebidos com
tiros. No tiroteio, nenhum policial ficou ferido, porém seis suspeitos
foram baleados e mortos. Um suspeito foi levado por uma viatura, acompanhado
por três policiais, até a altura do km 1 da Ayrton Senna, próximo ao local do
flagrante, e morto, após ser torturado.
Os
policiais foram presos em flagrante, devido a uma denúncia de uma moradora e
imagens registradas por câmeras da rodovia, e postos em liberdade na tarde do
dia seguinte.
O
grupo de suspeitos foi identificado como sendo membros do PCC (Primeiro Comando
da Capital), que em resposta à morte de um deles, supostamente teria aplicado
no bairro Cidade Tiradentes um toque de recolher. Os boatos eram de que ordens
foram dadas para que estabelecimentos fossem fechados, inclusive Postos de
Saúde 24 horas e escolas.
A
grande mídia abordou o ocorrido como mais um caso de criminalidade na periferia
da cidade. Entretanto, não é possível esperar uma análise real do problema por
parte da mesma.
O
que é importante ressaltar, e que é de amplo conhecimento principalmente da
população dos bairros pobres da cidade, é o tipo de tática que a Polícia
Militar do Estado de São Paulo se utiliza com os moradores desses bairros, vide
os dados de abordagens humilhantes e mortes nessas regiões por parte da PM. Os
"suspeitos" são em sua maioria jovens pobres e negros.
O
papel da polícia, que não deve ser um órgão militar (como é o nosso, um
resquício da ditadura civil-militar brasileira), deveria ser dar proteção à
população. Entretanto, num Estado burguês, onde o pobre é oprimido, explorado e
alienado, o responsável pelo caos é a burguesia.
Dessa vez, a ação dos
policiais, além de flagrada e denunciada, não teve como ser encoberta, e estes
estão sofrendo processos. A questão que fica é: é suficiente? O que garante que
desde o dia 30 de maio até a data presente, dezenas de moradores de favelas não
passaram por abordagens humilhantes, desnecessárias e, inclusive, não foram
machucados ou mortos?
Lendo
o que a mídia burguesa e oportunista escrevem sobre esse tipo de ocorrido,
brota uma inconformidade e, ao mesmo tempo, um conformismo, uma vez que esse
problema não parece ter solução (os criminosos nunca deixarão de existir?). É
preciso enxergar a raíz do problema. Numa sociedade capitalista, o crime, numa
escala geral, é instrumento de capitalistas, que bancam práticas como o tráfico
de drogas, etc.. E a culpa e a punição caem para aqueles que são vítimas do
sistema, o povo pobre, como se fosse natural da classe trabalhadora ser
criminosa.
A
classe trabalhadora não é criminosa, é a classe dos expropriados, dos que nada
têm a não ser a sua força de trabalho, e sabemos que não haverá solução para
sua emancipação e muito menos para a violência que sofre nos marcos do sistema
capitalista.
J5J-SP
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